Os dois Franciscos: o de Assis e o de Buenos Aires

"Os dois tinham cheiro de ovelhas. O de Assis amansava até os lobos. O de Buenos Aires está tendo dificuldades em amansar alguns católicos irados por suas reformas"

Neste começo de outubro, em que celebramos São Francisco de Assis e em que vemos o Papa Francisco em meio a uma guerra de narrativas ideológicas sobre o papado e a Igreja, o Pe. Zezinho compartilhou em sua página no Facebook o seguinte comentário sobre os dois Franciscos:

Os dois Franciscos: o de Assis e o de Buenos Aires

Um deles é do século 13 e é venerado como o santo pobrezinho (Poverello) e tinha sido rico. Foi líder de jovens.
Em menos de um século, seus seguidores, monges, monjas, irmãos menores, leigos, casais, tinham optado pela pobreza e pela mansidão e chegaram a quase um milhão de seguidores em toda a Europa. Francisco de Assis se convertera para a paz e para a mansidão e para o diálogo em favor da vida aos 26 anos e morreu 16 anos depois! É respeitado por todas as religiões pelo legado que deixou há 800 anos.
O outro chamava-se Jorge Bergoglio, tinha só um pulmão e ainda vive e é o atual Papa dos católicos.
Está sacudindo a Igreja do século 21 e é respeitado pelo mundo inteiro, exceto por menos de 0,1% de católicos que alegam representar 10%. Eles não acham que ele representa o diálogo, a paz e a mansidão e a retidão São Francisco de Assis.
Mas outros Franciscos (Xavier, Sales), também canonizados, que imitaram São Francisco de Assis, nem sempre foram reconhecidos em vida.
Os dois Franciscos optaram pelo desprendimento, pelo diálogo para a solução de conflitos, pela disciplina na Igreja, pela volta a costumes mais simples, pela partilha em favor dos pobres, por misturar-se com o povo; pelo testemunho pessoal e pregações que o povo simples entende. Os dois tinham cheiro de ovelhas. O de Assis amansava até lobos. O de Buenos Aires está tendo dificuldades em amansar alguns católicos irados por suas reformas.
São Francisco de Assis foi deposto da liderança na própria ordem que fundara. Mas quem o depôs acabou deixando a ordem. E só é lembrado pelos livros de História.
O Papa Francisco enfrenta ferrenha oposição de alguns microgrupos bem organizados, que, não podendo anular suas mudanças, já trabalham pela sua sucessão.
O Espírito Santo pode surpreendê-los com um sucessor ainda mais disposto a arejar a Igreja do Papa Francisco que só tem um pulmão. Nossa Igreja está respirando melhor com os últimos 9 papas que nos lideraram.
Quem viver verá. Aqueles rapazes e aquelas mocinhas do século 13 que sacudiram a Igreja do seu tempo nos deram milhões de jovens simples, pacifistas e preocupados em ajudar os mais pobres. Alguns tornaram-se bispos, cardeais, papas, empresários e políticos de sucesso. E viveram a simplicidade de Francisco e de Clara.
Imagino que Francisco de Buenos Aires e de Roma será imitado. E viverá um resumo dos ótimos papas que tivemos!
A volta ao passado? Não acontecerá! Guardaremos o que foi bom e avançaremos por águas mais profundas. Sem medo do amanhã! Somos a Igreja Católica. Os historiadores sabem disso! E os católicos que estudaram nossa História sabem também!


Aleteia | Out 09, 2019 

Autor Pe. Zezinho

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Os dois Franciscos: o de Assis e o de Buenos Aires



Uma imagem correu mundo em forma de arrepios em novembro de 2013 e se tornou um resumo visível do pontificado de Francisco. Embora não precisasse, a imagem ganhou uma legenda magistral quando Vinicio Riva, o homem desfigurado pela neurofibromatose a quem o Papa havia abraçado, deu um depoimento que equivale à mesma cena, mas em forma de palavras certeiras:
“O Papa não teve medo de me abraçar. Enquanto ele me acariciava, eu só sentia o seu amor!”

Vinicio nasceu na pequena cidade italiana de Isola, na província de Vicenza, onde morava com a irmã menor, Morena, e com a tia Caterina, que dedicava a vida a cuidar dos dois sobrinhos. Tanto Vinicio quanto a irmã sofrem de neurofibromatose tipo 1, ou doença de Recklinghausen, que provoca dolorosos tumores em todo o corpo e que ainda não tem cura.

“Os primeiros sinais apareceram depois dos meus 15 anos. Disseram-me que, aos 30 anos, já estaria morto. Mas ainda estou aqui“, declarou Vinicio, que tinha 53 anos na época do encontro inesquecível e indescritível com o Papa Francisco – indescritível, mas que, mesmo assim, ele tenta descrever, aproximando-nos bastante da profunda emoção que o envolveu:

“Primeiro, eu segurei a mão dele e, enquanto isso, com a outra mão, ele acariciou a minha cabeça e as minhas feridas. Depois, ele me deu um abraço bem forte, abraçou a minha cabeça. Eu apoiei minha cabeça no peito dele e os braços dele me envolveram. Ele me apertou forte, forte, como se quisesse me mimar e não me largava. Tentei falar, dizer-lhe alguma coisa, mas não consegui: a emoção era forte demais. Isso durou pouco mais de um minuto, mas pareceu-me uma eternidade”.

“As mãos do Papa são muito ternas. Ternas e bonitas. Seu sorriso é claro e aberto. Mas o que mais me impressionou foi o facto de ele não pensar duas vezes antes de me abraçar. Eu não tenho uma doença contagiosa, mas ele não sabia disso. Ele, simplesmente, foi lá e fez: acariciou todo o meu rosto e, enquanto fazia isso, eu só sentia o seu amor”.

O abraço do Francisco que procura revigorar a Igreja em ruínas do nosso tempo recorda o do Francisco que restaurou a Igreja em ruínas do século XIII.

São Francisco de Assis também abraçava aqueles a quem ninguém queria abraçar. E não era um gesto que lhe brotasse naturalmente: para ele, era um gesto de decisão, um acto de superação e de vencimento de si mesmo por amor a Deus e por amor aos filhos de Deus. Ele também sentia uma repulsa natural pelos leprosos, dos quais todos se distanciavam. Mas o amor precisava de ter mais força que a repulsa.


São Francisco cuida de leprosos - escultura no Santuário de Greccio



A respeito do amor e da decisão vividos por Francisco de Assis, contamos com o seguinte testemunho legado por São Boaventura a todas as gerações:

“Certo dia em que passeava a cavalo na planície que fica perto de Assis, Francisco cruzou-se, inesperadamente, com um leproso. Teve um sentimento de horror intenso, mas, lembrando-se da resolução de vida perfeita que tomara e de que devia, antes de mais, vencer-se a si mesmo e ser  «soldado de Cristo» (2ªTim. 2,3), saltou do cavalo para abraçar o infeliz. Este, que estendia a mão pedindo uma esmola, recebeu um beijo com o dinheiro. Em seguida, Francisco voltou a montar o cavalo. Mas, por muito que olhasse para um lado e para o outro, não viu o leproso. Cheio de admiração e de alegria, pôs-se a cantar louvores ao Senhor e prometeu não se deter com este acto de generosidade.

Abandonou-se então ao espírito de pobreza, ao gosto da humildade e aos impulsos de uma piedade profunda. Se até então a simples visão de um leproso o fazia estremecer de horror, passou a fazer-lhes todos os favores possíveis, com perfeita despreocupação por si mesmo, sempre humilde e muito humano; fazia-o por causa de Cristo crucificado que, nas palavras do profeta, «foi desprezado como um leproso» (Is. 53,3). Ía visitá-los com frequência, dava-lhes esmolas e, emocionado de compaixão, beijava-lhes afectuosamente as mãos e o rosto. E aos mendigos, não se contentando em lhes dar o que tinha, quereria dar-se a si mesmo, de maneira que, quando não levava dinheiro consigo, dava-lhes as suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as para as distribuir.

Foi por esta altura que realizou a peregrinação ao túmulo do apóstolo Pedro, em Roma. Quando viu os mendigos que fervilhavam no chão da Basílica, levado pela compaixão e atraído pelo amor da pobreza, escolheu um dos mais miseráveis, propôs-lhe trocar as suas vestes pelos farrapos com que o homem se cobria e passou todo o dia na companhia dos pobres, com a alma cheia de uma alegria que nunca, até então, conhecera”.

São Boaventura, em Vida de S. Francisco, Legenda Major, 1, 5-6

siteAleteia 

Oração para receber o Espírito Santo

HOLY TRINITY

Como os apóstolos foram preparados para a vinda do Espírito Santo? Rezando!

No próximo Pentecostes, entrará em funcionamento o CHARIS, novo corpo único de serviço de toda a corrente de graça da Renovação Carismática Católica. É uma oportunidade única para uma renovada efusão do Espírito sobre nós e sobre toda a Igreja. O propósito desta e das duas reflexões que me foram solicitadas pelo comité de coordenação é justamente apoiar e estimular com motivações bíblicas e teológicas o compromisso de oração com o qual muitos irmãos e irmãs desejam contribuir para o sucesso espiritual do evento.
Como os apóstolos foram preparados para a vinda do Espírito Santo? Rezando! “Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as  mulheres, entre elas Maria, a Mãe de Jesus, e os irmãos dele” (Atos 1,14). A oração dos apóstolos reunidos no Cenáculo com Maria, é a primeira grande epíclese, é a inauguração da dimensão epiclética da Igreja, daquele “Vinde, Espírito Santo” que continuará a ressoar na Igreja por todos os séculos e a quem a liturgia invocará em primeiro lugar antes de todas as suas ações mais importantes.
Enquanto a Igreja estava em oração, “de repente veio do céu um ruído como se soprasse um vento impetuoso… ficaram todos cheios do Espírito Santo” (Atos 2,2-4). Repete-se o que havia acontecido no batismo de Cristo: “Estando ele a orar, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele” (Lc 3, 21-22). Se dirá que para São Lucas foi a oração de Jesus que rasga os céus e atrai o Espírito sobre ele. O mesmo aconteceu em Pentecostes.
A constância com que, nos Atos dos Apóstolos, a vinda do Espírito Santo está relacionada com a oração, é impressionante. O papel decisivo do batismo não é mantido em silêncio (cf. At 2,38), mas há ainda mais insistência sobre a oração. Saulo “estava orando” quando o Senhor enviou Ananias para curar sua visão e para que ele ficasse cheio do Espírito Santo (cf. At 9,9-11). Quando os apóstolos souberam que Samaria havia recebido a Palavra, enviaram Pedro e João e eles “desceram e oraram para que recebessem o Espírito Santo” (Atos 8, 15).
Quando, na mesma ocasião, Simão, o Mago, tenta pagar para receber o Espírito Santo, os apóstolos reagiram indignados (cf. Atos 8,18ss). O Espírito Santo não pode ser adquirido, ele só pode ser implorado na oração. O próprio Jesus havia ligado o dom do Espírito Santo à oração, dizendo: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem” (Lc. 11,13). Ele o ligou não somente a nossa oração, mas também e sobretudo à Sua oração, quando disse: “E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador” (Jo 14, 16). Entre a oração e o dom do Espírito há a mesma circularidade e interpenetração que existe entre graça e liberdade. Precisamos receber o Espírito Santo para podermos orar e precisamos orar para receber o Espírito Santo. No início, há o dom da graça, mas depois precisamos orar para que esse presente seja preservado e aumentado.
Mas tudo isso não pode permanercer como um ensinamento abstrato e genérico. Ele deve dizer algo para mim pessoalmente. Você quer receber o Espírito Santo? Você se sente fraco e quer ser coberto pelo poder do alto? Você se sente morno e quer ser aquecido? Árido e quer ser regado? Rígido e quer ser maleável? Descontente com a vida passada e quer ser renovado? Rezem, rezem, rezem! Que o grito de sua boca mesmo que silencioso seja: Veni Sancte Spiritusvem Espírito Santo! Se uma pessoa ou um grupo de pessoas, com fé, se coloca em oração ou estando em retiro, determina-se a não se levantar até que tenha sido revestido pelo poder do alto e sido batizado no Espírito, assim lhe será feito e até muito mais.  E foi o que aconteceu naquele primeiro retiro de Duquesne, no qual nasceu a Renovação Carismática Católica. 
Assim como foi a oração de Maria e dos apóstolos, deve ser a nossa, deve ser uma oração “concordante e perseverante”. Concorde ou unânime (homothymadon) significa, literalmente, feito com apenas um coração (con-corde) e com “uma só alma”. Jesus disse: “Digo-vos ainda isso: se dois de vós se unirem sobre a terra e concordarem em pedir qualquer coisa, consegui-lo-ão de  meu Pai que está nos céus” (Mt 18,19).
A outra característica da oração de Maria e dos apóstolos é que foi uma oração “perseverante”. O termo grego original que expressa esta qualidade de oração cristã (proskarteroúntes) indica uma ação tenaz e insistente, de se estar ocupado com assiduidade e coerência a respeito de alguma coisa. É traduzido como perseverança ou oração assídua. Também poderia ser traduzido “fortemente agarrado” à oração.
Essa palavra é importante porque é a que ocorre com maior frequência toda vez que o Novo Testamento fala de oração. Nos Atos, ela retornará logo em seguida, quando falarem dos primeiros crentes que abraçaram a fé, que eram “assíduos aos ensinamentos, à fração do pão e às orações” (Atos 2,42). Também S. Paulo recomenda estarem “perseverando na oração” (Rm 12,12, e Col 4, 2). Em uma passagem da Carta aos Efésios lemos: “Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos” (Ef 6, 18).
A essência deste ensinamento deriva de Jesus, que contou a parábola da viúva importuna apenas para nos dizer que é necessário “rezar sempre, sem jamais deixar de fazê-lo” (cf. Le 18, 1). A mulher cananéia é uma ilustração viva dessa oração insistente que não se deixa desencorajar por nada e que, no final, justamente por isso, consegue o que deseja. Ela pede pela filha uma primeira vez, e Jesus – está escrito – “nem sequer lhe dirige a palavra”. Ela insiste e Jesus responde que ele é enviado apenas para as ovelhas de Israel. Ela se lança a seus pés, e Jesus responde que não é bom tirar comida da mesa das crianças para dar aos cães. Estas respostas já eram o bastante para deixar qualquer um desencorajado. Mas a mulher cananéia não desiste, ela continua: “Sim, mas também os cães…” e Jesus responde alegremente: “Mulher, a tua fé é verdadeiramente grande. Faça-se como tu queres” (Mt 15, 21ss).
Rezar por muito tempo, com perseverança, não significa orar com muitas palavras, numa conversa sem fim como fazem os pagãos (cf. Mt 6, 7). Ser perseverante na oração significa pedir freqüentemente, não parar de esperar a resposta, nunca desistir. Significa não se dar descanso e nem dar descanso a Deus: “Vós que deveis manter desperta a memória do Senhor, não vos concedais descanso algum e não o deixeis em paz, até que tenha restabelecido Jerusalém” (Is 62, 6-7). 
Mas por que a oração deve ser perseverante e por que Deus não ouve imediatamente? Não é ele mesmo que na Bíblia promete ouvir imediatamente, assim que se reza, ou antes de terminar de oração? “Antes mesmo que me chamem – ele diz – eu lhes responderei, estarão ainda falando – ele continua – e já serão atendidos” (Is 65, 24). Jesus reitera: “Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos que estão clamando por ele dia e noite, porventura tardará em socorre-los? Digo-vos que em breve lhes fará justiça”(Lc 18, 7).  A experiência não contradiz flagrantemente essas palavras? Não, Deus prometeu sempre ouvir e ouvir imediatamente nossas orações, e assim o faz. Somos nós que temos que abrir nossos olhos.
E é bem verdade, ele mantém sua palavra: ao atrasar o socorro ele já socorre;  de fato, esse adiamento é em si um socorro. Isso ocorre para que não aconteça que, ouvindo muito rapidamente a vontade de quem pede, ele não possa dirigi-lo a num caminho de perfeita santidade. É necessário distinguir o cumprimento de acordo com a vontade da pessoa que reza e o cumprimento de acordo com a necessidade da pessoa que reza, é a sua salvação. Jesus disse: “Procurai e achareis, batei e vos será aberto” (Mt 7: 7). Quando alguém lê estas palavras, imediatamente pensa que Jesus promete nos dar todas as coisas que pedimos a ele, e ficamos perplexos porque vemos que isso raramente acontece. Mas ele sobretudo intencionava nos dizer uma coisa: “Procura por mim e tu vais me encontrar, bata à porta e eu a abrirei a ti”. Ele promete dar-se para além das coisas triviais que pedimos a ele, e essa promessa é sempre infalivelmente mantida. Aqueles que o procuram, o encontram; a quem bate, ele abre a porta  e quando o encontramos, todo o resto fica em segundo lugar. 
Quando o objeto de nossa oração é o melhor presente por excelência, aquilo que o próprio Deus quer nos dar acima de todas as coisas – o Espírito Santo –,  devemos nos precaver contra possíveis enganos. Somos levados a conceber o Espírito de Santo, mais ou menos conscientemente, como uma poderosa ajuda do alto, como um sopro de vida que vem reavivar com prazer nossa oração e nosso fervor, para tornar eficaz nosso ministério e tornar fácil o carregar a própria cruz. Você tem orado assim por anos para ter o seu Pentecostes, e parece-lhe que não houve sequer um sinal de vento. Nada do que você esperava, aconteceu. 
O Espírito Santo não nos é dado para fortalecer nosso egoísmo. Olhe melhor ao redor. Talvez todo o Espírito Santo que você tenha pedido para si mesmo, Deus não o concedeu a você mas aos outros. Talvez a oração de outras pessoas ao seu redor, por causa da tua palavra, tenha sido renovada e a sua tenha permanecido atrofiada como antes; outros sentiram seus corações tocados, sentiram a compunção e o choro do arrependimento e você ainda pede essa graça. Deixe Deus livre; tenha como ponto de honra deixar Deus ser livre como quiser. Esta é a maneira que ele escolheu para lhe dar o seu Espírito Santo portanto, é a melhor. Quem sabe o que alguns apóstolos, no dia de Pentecostes, vendo aquela multidão lamentando e batendo no peito, com os corações transpassados pela Palavra de Deus, não tenham sentido inveja e confusão, pensando que eles mesmos não tinham chorado ainda, de arrependimento, por terem crucificado Jesus de Nazaré. S. Paulo, cuja pregação era acompanhada pela manifestação do Espírito Santo e de poder, pediu três vezes para ser liberado de seu espinho na carne, mas não foi ouvido e teve que resignar-se a viver com ele, para que se manifestasse ainda melhor o poder de Deus (cf. 2 Cor 12: 8f).
Na Renovação Carismática, a oração se manifesta de uma nova forma em relação ao passado: a oração em grupo ou o grupo de oração. Ao participar deles a pessoa entende o que significava quando o apóstolo escreve aos Efésios: “Enchei-vos do Espírito, falai entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor com todo o coração, dando graças por tudo a Deus Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5, 18-20). E novamente: “Ore também incessantemente com todo tipo de orações e súplicas no Espírito” (Ef 6,18).
Conhecemos apenas dois tipos básicos de oração: a oração litúrgica e a oração privada. A oração litúrgica é comunitária, mas não é espontânea; a oração privada é espontânea, mas não é comunitária. Há momentos em que se pode orar espontaneamente, como o Espírito manda, e compartilhar a própria oração com os outros, reunindo os vários dons e carismas e enriquecendo-se um com o fervor do outro, juntando as diferentes “línguas de fogo” para formar uma única chama. Em suma, precisamos de uma oração que seja espontânea e ao mesmo tempo comunitária.
Temos um magnífico exemplo dessa oração “carismática”, espontânea e comunitária no quarto capítulo de Atos. Pedro e João, libertados da prisão com a ordem de não mais falar em nome de Jesus, voltam para a comunidade e lá começam a rezar. Um proclama uma palavra da Escritura (“Os principados se aliaram contra o Senhor e contra o seu Cristo”), outro tem o dom profético de aplicar a palavra à situação do momento; há uma “insurreição” de fé que dá a coragem de pedir “curas, sinais e maravilhas”. No final, é repetido o que aconteceu no primeiro Pentecostes, “todos foram cheios do Espírito Santo” e continuam a pregar a Cristo “com franqueza”.
Um presente especial para pedir ao Espírito Santo, por ocasião da renovação e unificação das organizações de serviço é que Ele ressuscite as maravilhas dos primeiros grupos de oração carismáticos em que quase se respirava a presença do Espírito Santo e o senhorio de Cristo não era uma verdade apenas proclamada, mas tangivelmente sentida. Não nos esqueçamos de que o grupo de oração ou oração em grupo é o elemento básico que une tanto a realidade dos grupos de oração quanto das fraternidades carismáticas. 
Com cada uma das modalidades de oração mencionadas, pode-se participar da corrente de oração em preparação para o Pentecostes. Para aqueles que amam a oração litúrgica, sugiro que escolha e repita várias vezes ao dia uma das seguintes invocações do Espírito Santo em uso na liturgia, sabendo muito bem que estará se unindo às ​​multidões de crentes que a rezaram antes de nós: “Vinde Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”. (Para aqueles que ainda amam rezar com as fórmulas latinas originais: “Veni, Sancte Spiritus, corda de corda fidelium e tuis amoris em eis ignem aceso”). Ou: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e renovai a face da terra”. Ou: “Vinde Espírito Criador, visitai nossas mentes, preenchei os corações que vós criastes com a graça celestial”.
Para os irmãos e as irmãs de língua inglesa, sugiro que repitam sozinhos ou em grupo, as palavras dessa canção que recebemos de irmãos pentecostais e que têm acompanhado milhões de crentes no momento de receber o batismo no Espírito (alternando o singular “me” com o plural “us”): “Spirit of the living God, fall afresh on me: melt me, mould me, fill me, use me. Spirit of the living God, fall afresh on me”.
Em meu livro de comentários sobre o Veni Creator, também formulei uma invocação ao Espírito Santo. Nesta circunstância, de bom grado eu a compartilho com aqueles que se sentem inspirados por ela:
Vem, ó Espírito Santo!
Vem, força de Deus e doçura de Deus!
Vem, tu que és movimento e quietude ao mesmo tempo!
Renove a nossa coragem,
preenche nossa solidão no mundo,
cria em nós a intimidade com Deus!
Já não dizemos, como o profeta: “Vem dos quatro ventos“,
como se ainda não soubéssemos de onde vens, 
nós dizemos: Vem Espírito do lado transpassado de Cristo na cruz!
Vem da boca do Ressuscitado!
Pe. Raniero Cantalamessa | Maio 06, 2019
Natal 2018
Na festa da Ascensão de Jesus ao Céu, em Maio de 1959, como acontece todos os anos litúrgicos B, lê-se o Evangelho de S. Marcos 16,15-20: «Jesus disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.  Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado». 
Naquele dia, estas palavras tocaram-me profundamente.
Nesse tempo havia no mundo uns dois mil e quinhentos milhões de pessoas não batizadas. Pensei de mim para comigo: «que posso eu fazer para anunciar o Evangelho a essa multidão e para que essas pessoas creiam e sejam batizadas?» 
Consciente ou inconscientemente, senti uma força interior que me empurrava a dizer: «quero ser missionário». Dito e feito. Nesse mesmo ano, no dia 8 de setembro, festa da natividade de Nossa Senhora, dei entrada ao seminário comboniano de Viseu. 
Doze anos mais tarde, na Quinta-feira Santa, dia 8 de Abril de 1971 fui ordenado padre.
Passaram-se cinco anos e em Abril de 1976 cheguei ao Congo, para anunciar o Evangelho a um povo que na maioria era ainda pagão. Hoje, graças a Deus, muita dessa gente, que então encontrei no Congo, é cristã.
Mas, o problema põe-se outra vez. Se em 1959 havia no mundo uns dois mil e quinhentos milhões de pessoas não batizadas, hoje esse número triplicou. Portanto, se então tinha sentido uma vocação missionária, hoje ainda tem mais sentido. Por isso continuo a sentir-me feliz e a dar graças a Deus por me ter chamado para esta vida. Ao mesmo tempo, peço-Lhe que continue a chamar muitos jovens e a enviá-los a anunciar a Palavra de Deus aos povos que ainda não a conhecem. Deste modo, muitas outras pessoas podem ser batizadas e alcançaram a salvação eterna.
Que esse Natal seja um tempo especial para que Jesus renasça no coração e na vida duma multidão de pessoas que se deixem tocar pela presença de Deus e abram as portas a Cristo.
Vosso irmão e amigo
P. Alfredo Neres

O QUE SIGNIFICA A COROA DO ADVENTO

A COROA DO ADVENTO

A vela sempre teve um significado especial para o homem, sobretudo porque antes de ser descoberta a eletricidade, ela era a vitória contra a escuridão da noite. À luz das velas, São Jerónimo traduzia a Bíblia do grego e do hebraico para o latim, nas grutas escuras de Belém onde Jesus nasceu.



Ainda hoje, em casa, à noite, quando falta a energia, todos correm atrás de uma vela e de um fósforo.
Acender velas nos faz-nos lembrar também a festa judaica de "Chanuká", que celebra a reconquista da Cidade de Jerusalém pelos irmãos Macabeus que estava em poder das mãos do rei grego, Antíoco IV.

Antes da era cristã os pagãos celebravam em Roma a festa do deus Sol Invencível (Dies solis invicti) no solstício de inverno, em 25 de Dezembro. A Igreja, sabiamente, começou a celebrar o Natal de Jesus neste dia, para mostrar que Cristo é o verdadeiro Deus, o verdadeiro Sol, que traz nos seus raios de Luz, a Salvação. É a festa da Luz que é o Cristo: "Eu Sou a Luz do mundo" (Jo 12, 8). 
No Natal desceu a nós a verdadeira Luz "que ilumina todo homem que vem a este mundo" (Jo 1, 9).

Na chama da vela estão presentes as forças da natureza e da vida. Cada vela marca um ano da nossa vida no bolo de aniversário. Para nós, cristãos, simbolizam a fé, o amor e o trabalho realizado em prol do Reino de Deus. Velas são vidas que se imolam na liturgia do amor a Deus e ao próximo. Tudo isso foi levado para a liturgia do Advento. Com ramos de pinheiro uma coroa com quatro velas prepara os corações para a chegada do Deus Menino.

Nestas quatro semanas somos convidados a esperar Jesus! Ele virá! É um tempo de preparação e de alegre esperança na vinda do Senhor. 

Nas duas primeiras semanas do Advento, a liturgia convida-nos a vigiar e a esperar a vinda gloriosa do Salvador. Nas duas últimas, a Igreja nos faz lembrar a espera dos Profetas e de Maria pelo nascimento de Jesus.

A Coroa é o primeiro anúncio do Natal. O verde é o sinal de esperança e vida, enfeitada com uma fita vermelha que simboliza o amor de Deus que se manifesta de maneira suprema no nascimento do Seu Filho em forma humana. A branca significa a paz que o Menino Deus veio trazer; a roxa clara (ou rosa) significa a alegria de sua chegada.

A Coroa é composta por quatro velas colocadas nos seus cantos e presas aos ramos, formando um círculo. 
O círculo não tem começo nem fim! 
É o símbolo da eternidade de Deus e do reinado eterno de Cristo. A cada domingo acende-se uma delas.

As quatro velas do Advento simbolizam as grandes etapas da salvação em Cristo.

1. No primeiro domingo do Advento, acendemos a primeira vela - vermelha - que simboliza o perdão a Adão e Eva. Cristo desceu à Mansão dos mortos para dar-lhes o perdão.

2. No segundo domingo, a segunda vela - verde -  representa a fé dos Patriarcas: Abraão, Isaac, Jacó, que acreditaram na Promessa da Terra Prometida, a Canaã dos hebreus: ali nasceria o Salvador, a Luz do Mundo.

3. A terceira vela - rosa - acessa com as duas primeiras, simboliza a alegria do rei Davi, o rei que simboliza o Messias porque reuniu sob seu reinado todas as tribos de Israel, assim como Cristo reunirá em si todos os filhos de Deus. É o domingo da alegria. Esta vela tem uma cor mais alegre, o rosa ou roxo claro.

4. A última vela - branca - simboliza os Profetas, que anunciaram um reino de paz e de justiça que o Messias traria.

Tudo isso para nos lembrar o que anunciou o Profeta:

"Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor" (Is 11,1-2).

"O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas; porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos" (Is 9,1-6).

Professor Felipe Aquino (Gaudium Press 5/12/2018
ADVENTO

A palavra advento significa “chegada” e, no caso do presente tempo litúrgico, é um convite da Igreja para vivermos na espera da vinda de Jesus em atitude de vigilância, diligência, penitência, oração, esperança e gratidão Àquele que, sendo Deus, se fez homem e nasceu por amor por cada um de nós!
Há preciosas tradições que nos ajudam a aproveitar com intensidade espiritual este precioso tempo de preparação para o Natal. Uma delas é a Coroa do Advento. 
E há também, é claro, a graça do Espírito Santo  para prepararmos a nossa alma, o nosso coração, em recolhimento pessoal diante de Deus e da nossa própria consciência. Para essa preparação que sugerimos o seguinte “guia” – que não é nada formal, nem constitui nenhuma tradição específica da Igreja. São meras sugestões para vivermos de um modo mais intenso, o Advento no nosso cotidiano!

Primeira semana: Limpeza

Viva a virtude da pureza, do perdão, da retidão das intenções. Limpa o teu interior com um espírito vigilante e varre de ti tudo aquilo que não te deixa olhar com clareza para a magnificência de Deus!
Limpa a tua alma com um exame de consciência profundo, pensando nas coisas que te separam de Deus. Depois, faz uma boa confissão e pede-Lhe perdão.
Ah, e tu também precisas de perdoar: tira do teu coração tudo o que te impede de experimentar, em profundidade, o amor de Deus: o mesmo amor que desejas viver e transmitir aos teus semelhantes. Podes fazer, por exemplo, alguma oração parecida com esta:
Pai, eu Te suplico humildemente: dá-me tudo o que eu não soube pedir-Te e tira de mim tudo aquilo que eu não soube entregar-Te. Tira de mim tudo aquilo que me afasta de Ti e nunca permitas que nenhum amor humano, nenhum bem material, nenhuma circunstância da vida me separe de Ti, do Teu coração, pois eu desejo ser só Teu, meu Senhor! Completamente, Teu!

Segunda semana: Reorganização

Depois da limpeza, temos de recolocar tudo em ordem! A verdadeira paz está relacionada com a ordem da alma que nos ajuda a viver a vida com as prioridades certas. A máxima prioridade é Deus, que é a plenitude do Ser, a plenitude do Amor, a plenitude do Bem, a plenitude da Beleza, a plenitude da Verdade, a plenitude da Felicidade.
Organiza os teus afetos recolocando Deus no primeiro lugar! Sigue o que Ele pede. Assim, experimentarás a ordem interior e, portanto, a verdadeira paz – a mesma paz que irás transmitir ao mundo, já que os outros vão dizer-te: “Eu também quero viver como tu!”.
Mas lembre-te: a paz não significa ausência de problemas; ela é fruto da certeza de que, por trás de qualquer acontecimento e por mais doloroso que seja, Deus tem um plano perfeito que poderá levar-te à Sua plenitude, caso tu o permitas! 
  
Terceira semana: Amor

Nesta semana, foca-te no amor e na misericórdia para com os teus irmãos em Cristo. Com todos! O serviço ao próximo, que é fruto do sacrifício e do amor autêntico, torna-se alimento para a alma, motor para a vida e veículo do amor de Deus para os demais.
Lembre-te: é dando que se recebe. Amar e servir a quem amas. é fácil!
Amar e servir a quem mais custa é prática real de misericórdia e amor.

Quarta semana: Alegria!

O Natal já está à porta! Esta é a grande semana! Desfruta-a com a felicidade de uma alma cheia de esperança, alegria, certeza do Amor de Deus! 
Reconhece, realmente, quem tu és e vive com dignidade, honrando a tua verdadeira natureza: tu és FILHO DE DEUS, redimido por Cristo!

A COROA DE NATAL

A Coroa é o primeiro anúncio do Natal. O verde é o sinal de esperança e vida, enfeitada com uma fita vermelha que simboliza o amor de Deus que se manifesta de maneira suprema no nascimento do Filho de Deus humanado. A branca significa a paz que o Menino Deus veio trazer; a roxa clara (ou rosa) significa a alegria de sua chegada.
A Coroa é composta de quatro velas nos seus cantos presas aos ramos formando um círculo. O círculo não tem começo e nem fim, é símbolo da eternidade de Deus e do reinado eterno do Cristo. A cada domingo acende-se uma delas.
As quatro velas do Advento simbolizam as grandes etapas da salvação em Cristo.
1. No primeiro domingo do Advento, acendemos a primeira vela - vermelha - que simboliza o perdão a Adão e Eva. Cristo desceu a Mansão dos mortos para dar-lhes o perdão.
2. No segundo domingo, a segunda vela - verde - acesa com a primeira, representa a fé dos Patriarcas: Abraão, Isaac, Jacó, que creram na Promessa da Terra Prometida, a Canaã dos hebreus; dali nasceria o Salvador, a Luz do Mundo.
3. A terceira vela - rosa - acessa com as duas primeiras, simboliza a alegria do rei Davi, o rei que simboliza o Messias porque reuniu sob seu reinado todas as tribos de Israel, assim como Cristo reunirá em si todos os filhos de Deus. É o domingo da alegria. Esta vela tem uma cor mais alegre, o rosa ou roxo claro.
4. A última vela - branca - simboliza os Profetas, que anunciaram um reino de paz e de justiça que o Messias traria.
Tudo isso para nos lembrar o que anunciou o Profeta:
"Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes.Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor" (Is 11,1-2).
"O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. 3. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas; porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos" (Is 9,1-6).

Prof. Felipe Aquino, Com Canção Nova

 JÁ PENSASTE NISTO?

Há dois mil anos houve a sexta-feira mais negra da história!
S. Lucas conta-nos que naquela negra sexta-feira  enquanto o Filho de Deus era levantado, cravado na Cruz, toda a terra ficou na escuridão. (Lucas 23:44).
Naquela Black Friday Deus fez a melhor oferta que um dia o ser humano recebeu: colocou a salvação de forma gratuita ao alcance de todos nós.
Naquela sexta-feira negra no Gólgota, Deus não fez somente um simples desconto pela nossa dívida!
Ele pagou-a por completo!

"MATAR A MORTE"

É possível a fé «matar a morte»?

Se a vida é uma bênção, a morte surge no horizonte, ainda que distante, como uma maldição impossível de contornar. Pode surpreender-nos em tempo de festa e sua densa sombra sobre aqueles que amamos é fonte de angústia. Dialogamos com ela durante noites a fio enquanto mantemos um braço de ferro até ao limite, até ao dia em que a abraçamos ou somos mansamente abraçados por ela. 

«No fim dos tempos», nesse tempo que desejamos longínquo, sonhamos que a «morte morra», porque até aquele que a antecipa, procura desesperadamente um espaço de liberdade e de realização. Desejamos que a morte seja a pedra na qual assentamos o pé para atravessar o grande lago, a fronteira que separa os dois mundos, realidade transitória mas necessária para aceder à plenitude de felicidade que naturalmente ansiamos.

É possível que a «morte morra?» A perspetiva cristã enfrenta este mistério de um modo que alguns consideram uma estratégia de negação da realidade, uma espécie de fuga para a frente. A finitude não é uma desgraça, antes pelo contrário, uma experiência de libertação. O morrer, associado por vezes à dor terrível, é o pórtico para a comunhão plena com Deus.

Esta nova visão da morte está já presente nos primeiros testemunhos que chegaram até nós, como por exemplo, a versão de S. Marcos do fim dos tempos que escutamos este domingo: «nos últimos dias, depois de uma grande aflição… Nessa altura, verão o Filho do Homem vir…. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos…» 

Terá sido num ambiente familiar, longe do olhar persecutório das autoridades, que a mensagem apocalíptica de Jesus foi repetidamente proclamada. Ameaçados e perseguidos por causa da fé, o pequeno grupo não arrepiou caminho. Hoje é-nos difícil imaginar o impacto disruptivo deste pequeno grupo na cultura dominante. Eram, no mínimo, bastante estranhos. Como destaca o ensaísta D. Hart, faziam parte da comunidade as pessoas mais desprezíveis. Aos olhos dos pagãos, tinham sido justamente condenadas, torturadas e executadas pelos seus crimes mas, para espanto de muitos, rapidamente eram glorificadas como mártires da fé cujas relíquias ocupavam o espaço devocional dos antigos deuses. 

O comportamento anormal dos seguidores do Galileu, também Ele torturado e executado em espaço público, é apenas compreensível à luz da eminente ressurreição, caso contrário, não passaria de um grupo de lunáticos sem qualquer consistência social e histórica. Um novo dado altera substancialmente o modo de ver e estar no mundo: A devoção ao Deus crucificado e ressuscitado alterou o destino dos homens. 

É possível a fé «matar a morte»? A resposta dos cristãos é inequivocamente afirmativa. 

Pe. Nélio Pita, CM 
Pároco de S. Tomás de Aquino