Querido irmão Francisco, bispo de Roma: começaste uma importante renovação da Igreja, pela qual te estamos infinitamente gratos. Fazia muita falta. Basta só ver a praga da pederastia que havia dentro dela, pois quase não há dia em que não venham à luz novos casos, algo que é horrendo, venha de quem vier, e muito mais de quem deve ser modelo perfeito de respeito pelos outros, e no caso de crianças nefando, como é o de pessoas que têm como objetivo da sua vida a fidelidade plena à mensagem de Jesus, que tratando-se de crianças é absolutamente contundente quando diz: "para quem escandalize um destes pequeninos que crêem em mim, mais valeria para ele que lhe  amarrem ao pescoço uma pedra de moinho e o afundem nas profundeza do mar "(três Evangelistas recolhem esta mensagem). E pelo lado positivo, Jesus diz: "Quem recebe uma criança em meu nome, a mim recebe" (Lc 9,48). Há uma presença real de Jesus nas crianças: como tratamos a elas tratamos a Ele.

Novos cardeais: nomeaste recentemente um número importante de cardeais mais coerentes com a tua linha renovadora da Igreja. Estás pondo um fim ao eurocentrismo histórico da hierarquia católica. Quando foste eleito 61cardeais eleitores eram europeus e 56 de outros países. Depois dos últimos que escolheste as proporções mudam: já são 67 os extra-europeus e 54 os europeus. Com estas nomeações, há 7 países que até agora não estavam representados no Colégio Cardinalício, com o que, a partir de agora, há cardeais de um total de 79 países. Neste momento há um não europeu a menos, Evaristo Arns, falecido recentemente no Brasil: se todos os outros cardeais fossem como este grande cristão, a Igreja seria muito diferente da atual, muito mais testemunhal, mais coerente com a mensagem de Jesus, mais crível, mais profética, mais fiel à salvação integral do homem (ou seja, imanente e transcendente, ambas inseparáveis).

Mais cardeais: Por favor, continua buscando cardeais nesta linha de evangelização autêntica, até alcançar um número suficiente, para que quanto tu venhas a faltar, fique assegurada a tua linha renovadora da Igreja, e não haja possibilidade de marcha à ré, como pretendem alguns, pois disso depende não só o futuro da Igreja, mas também a sua influência decisiva na marcha da humanidade e de todo o Sistema Terra, como explicas na Encíclica ‘Laudato Si’, para um mundo mais justo e mais coerente com a dignidade do homem e da criação, para este mundo e para a sua plenitude definitiva de todos e de tudo.

Novos bispos: É pedir-te muito, mas não fiques apenas na escolha de cardeais, porque os cardeais atualmente procedem quase sempre dos Bispos. Conforme estes sejam assim serão os cardeais. Nesta área falta muito para renovar, porque durante quase três décadas recentes, os bispos nomeados foram no seu conjunto de um corte e estilo claramente conservador, até mesmo integrista, contornando claramente as orientações do Concílio Vaticano II a esse respeito, e até mesmo pondo de lado e marginalizando claramente os que, vindos de nomeações anteriores, não se ajustavam aos critérios parecidos com os estabelecidos por Roma durante esse longo período.

Os reacionários: Mais ainda, há bispos procedentes dessa fase reacionária que afirmam explicitamente que o teu pontificado é uma etapa transitória, e que, quando faltares, tudo voltará a ser como era antes da tua eleição. Ainda temos exemplos claros da fase reacionária, abundantes na Espanha, de norte a sul, passando pelos arredores de Madrid, nepotismo não dissimulado incluído, que tinham e ainda têm muito mais cheiro de riqueza do que de pobreza e ovelha; destacam-se em especial os de Valencia, Acalá, San Sebastián, Getafe, Asturias, Granada, e o ex-todo poderoso desta fase, o Sr. Rouco Varela. Tu estás tentando adaptar a Igreja ao ritmo e às necessidades do mundo atual, mas com forte e dura oposição, mesmo dos que estão perto de ti, como o  cardeal Raymond Burke, que gostaria de surpreender-te em erro grave, para te acusar de heresia e dar por consumada a tua demissão.

Igreja incoerente com o Evangelho: a Igreja esteve durante séculos ligada ao poder político, às ideologias conservadoras e burguesas, ao moralismo mais integrista, alienante e rigorista, sobretudo na moral sexual, mas totalmente permissivo para com a acumulação de riquezas (a Igreja mesma agiu assim), permitidas pelas leis civis, mas totalmente injustas e anticristãs, e uma Igreja que em sua estrutura oficial esteve quase sempre unida aos ricos. Como é que esses bispos e cardeais não percebem que foi devido ao seu fechamento, fundamentalismo e conservadorismo tresnoitado, que a Igreja perdeu em massa, durante os séculos XVIII e XIX, a classe trabalhadora, por estar ao lado dos poderosos (ela mesma era um deles)? Em seguida perdeu os intelectuais, condenando o modernismo e opondo-se à evolução do pensamento e aos avanços científicos Agora na civilização ocidental já quase perdeu em massa a juventude.

Roma e a sua Cúria: João XXIII com o Vaticano II tentou remediar um pouco as coisas e atualizar a Igreja, mas com Roma e a Cúria logo deu marcha à ré, esquecendo o Concílio, separando, marginalizando e até mesmo condenando centenas de teólogos e grandes pastores, especialmente durante o longo pontificado de João Paulo II, aquém e sobretudo além-mar.

Os evangélicos e a Teologia da libertação: John F. Kennedy disse que os que se opõem a uma evolução pacífica da sociedade tornam inevitável a revolução violenta. E a revolução é que a Igreja Católica está cada dia mais fora da sociedade e sem gente, ou os seus "fiéis" estão indo em massa para outras religiões, como os Evangélicos na América Latina, aos quais o governo Reagan apoiou decisivamente com muitos meios e dinheiro e com o consentimento expresso e claro do Papa João Paulo II, para conter a teologia da libertação, "porque se opunha aos interesses dos Estados Unidos", acusada deliberadamente como ligada ao comunismo, de forma totalmente injusta. Atualmente os evangélicos já são uma maré imparável, o grupo que mais cresce em todo o continente americano. Cerca de 81% dos eleitores americanos deste credo votaram em Donald Trump, que na convenção do Partido Republicano afirmou explicitamente: " gostaria de agradecer à comunidade evangélica". Na Colômbia a mobilização de dois milhões de evangélicos foi decisiva para a vitória do "não" ao acordo de paz com as FARC, porque certamente atrás desses dois milhões há muito dinheiro (Ver documento "A fondo" em XL Semanal, de18 a 24 de dezembro de 2016).

Francisco, segue em frente! A linha neoliberal capitalista que seguem os evangélicos americanos está obviamente relacionada ao poder e ao dinheiro, coisa que é diametralmente contrária à mensagem de Jesus e aos empobrecidos do mundo e da Mãe Terra, que são a tua maior preocupação. Em conclusão, Irmão Francisco, segue em frente, renovando com decisão a Igreja para que seja cada vez mais fiel à dimensão total do Evangelho, que é o verdadeiro caminho para a libertação integral de todo o Sistema Terra: o homem e a criação, porque só por aí vai o verdadeiro futuro da humanidade. Faz isso de tal maneira que o que estás fazendo seja irreversível. Portanto, escolhe não só cardeais mas sobretudo bispos, cada vez mais em coerência com o Evangelho e a realidade do mundo atual.

Nota - Tu sabes perfeitamente o que deves e podes fazer: estas letras são apenas para que saibas que somos incontáveis, as pessoas que estamos contigo. Um cordial abraço para ti e para todos os que realmente lutam por um mundo melhor com base no compromisso fiel à mensagem libertadora de Jesus Cristo.

P.e Faustino Vilabrille Linares, em www.reflexionyliberacion.cl, 27 de dezembro de 2016.
O sítio Reflexión y Liberación é propriedade dos Jesuítas no Chile
Tradução: Orlando Almeida



Os 7 dons do Espírito Santo explicados por Papa Francisco

O Catecismo da Igreja Católica diz que: “Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Em plenitude, pertencem a Cristo, Filho de Davi. Completam e levam à perfeição as virtudes daqueles que os recebem” (n.1831). Tornam os fiéis dóceis para obedecerem prontamente às inspirações divinas. São Paulo lembra que “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus […]. Filhos e, portanto herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8,14.17).

1- Dom de Ciência

O dom da ciência faz que o cristão penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus; vê cada criatura como reflexo da sabedoria do Criador e como caminho a Deus. Leva o homem a compreender o vestígio de Deus que há em cada ser criado. O homem foi feito para Deus e só n’Ele pode descansar, como disse Santo Agostinho. Por este dom o cristão reconhece o sentido do sofrimento e das humilhações no plano de Deus, que liberta e purifica o homem.

2- Dom do Entendimento / Inteligência

O dom do entendimento ou inteligência nos ajuda a penetrar no íntimo das verdades reveladas por Deus e entendê-las. Por ele o cristão contempla os mistérios da fé. É um entendimento diferente daquele que o teólogo obtém pelo estudo; o que é penoso e lento. O dom da inteligência é eficaz mesmo sem estudo; é dado aos pequeninos e ignorantes, desde que tenham grande amor a Deus.
Por esse dom conhecemos os nossos pecados e a nossa miséria. Os santos, quanto mais se aproximaram de Deus, mais tiveram consciência do seu pecado ou da sua distância de Deus.

3- Dom da Sabedoria

O dom da sabedoria nos dá um conhecimento da verdade revelada por Deus. Abrange todos os conhecimentos do cristão e os põe sob a luz de Deus, mostra a grandeza do plano do Criador e a sua omnipotência. Vem da intimidade com o Senhor.

4- Dom do Conselho

O dom do conselho permite ao cristão tomar as decisões oportunas nas horas difíceis da vida, para que se comporte como verdadeiro filho de Deus. Isso, às vezes, exige coragem. Pelo dom do conselho o Espírito Santo nos inspira a maneira correta de agir no momento oportuno. “Todas as coisas têm o seu tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora […]” (Ecl 3, 1-8); fora desse momento preciso, o que é oportuno pode tornar-se inoportuno; nem sempre é fácil discernir se é oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer “sim” ou dizer “não”.

5- Dom da Piedade

O dom da piedade nos orienta em todas as relações que temos com Deus e com o próximo. São Paulo se refere a isso: “Recebestes o Espírito de adoção filial, pelo qual bradamos: Abbá ó Pai” (Rm 8,15). O Espírito Santo, mediante o dom da piedade, nos faz, como filhos adotivos de Deus, reconhecer Deus como Pai. E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, consideramos as criaturas com olhar novo. Este dom nos leva a considerar o fato de que Deus é sumamente santo e sábio: “Nós vos damos graças por vossa grande glória”. É o dom da piedade que leva os santos a desejar, acima de tudo, a honra e a glória de Deus. “Para que em tudo seja Deus glorificado”, diz São Bento. E Santo Inácio de Loiola exclama: “Para a maior glória de Deus”. É também o dom da piedade que desperta no cristão a inabalável confiança em Deus Pai, como, por exemplo, Santa Teresinha. Este dom leva o cristão a ver o outro como irmão e a amá-lo como filho de Deus.

6- Dom da Fortaleza

O dom da fortaleza nos dá força para a fidelidade à vida cristã, cheia de dificuldades. Jesus disse que “o Reino dos céus sofre violência dos que querem entrar, e violentos se apoderam dele” (Mt 11,12). Pelo dom da Fortaleza o Espírito Santo nos dá a coragem necessária para a luta diária contra nós mesmos, nossas paixões e problemas, com paciência, perseverança, coragem e silencio. Nos dá forças além das naturais. Esta força divina transforma os obstáculos em meios e nos dá a paz mesmo nas horas mais difíceis. Foi o que levou São Francisco de Assis a dizer: “Irmão Leão, a perfeita alegria consiste em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nós”.

7- Dom do Temor

O dom do temor de Deus nos leva a amá-Lo tão profundamente que tenhamos receio de ofendê-Lo. Nada tem a ver com o temor do mercenário ou o temor do castigo (do escravo); mas é o temor do amor do filho. É a rejeição que o cristão experimenta diante da possibilidade de ofender a Deus; brota das entranhas do amor. Não há verdadeiro amor sem este tipo de temor. Medo de ofender o Amado. Pelo dom do temor de Deus a vitória é rápida e perfeita, pois é o Espírito que move o cristão a dizer “não” à tentação. O dom do temor de Deus está ligado à virtude da humildade, que nos faz conhecer nossa miséria, impede a presunção e a vã glória, e assim, nos torna conscientes de que podemos ofender a Deus; daí surge o santo temor de Deus. Ele se liga também à virtude da temperança; combate a concupiscência e os impulsos desordenados do coração, para não ofender e magoar a Deus.

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