"Jesus chama-nos com doçura e com a confiança de um pai.


Chamados à Conversão - Atitude "Especial" de Jesus
O Pontífice relembrou que a Quaresma é um tempo que ajuda à conversão, uma reaproximação com Deus e uma mudança de vida. E que esta é uma graça a ser pedida ao Senhor.

O Senhor não se cansa de chamar cada um a mudar de vida, a dar um passo em direcção a Ele, a converter-nos, e faz isto com a doçura e a confiança de um pai.
A inspiração para o pensamento e para estas palavras do Papa, nasceu da leitura do primeiro livro do Profeta Isaías ( 1,10.16-20 ), que o Santo Padre considerou um verdadeiro "chamamento à conversão".

Escutai a palavra do Senhor, chefes de Sodoma; dai ouvidos ao ensinamento do nosso Deus, povo de Gomorra: 

Lavai-vos, purificai-vos, afastai dos meus olhos a malícia das vossas acções, deixai de praticar o mal e aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva». 

Vinde então para discutirmos as nossas razões, — diz o Senhor. Ainda que os vossos pecados sejam como o escarlate, ficarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã. 
Se fordes dóceis e obedientes, comereis os bens da terra. 
Mas se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados pela espada». Assim falou a boca do Senhor. 

Na homilia de hoje o Papa mostra qual é a atitude "especial" de Jesus diante de nossos pecados: Jesus "não ameaça, mas chama com doçura, dando confiança": "Venha, conversemos", são as palavras do Senhor aos chefes de Sodoma e ao povo de Gomorra, a quem o Senhor já havia indicado qual "o mal" a ser evitado e qual o "bem" a ser seguido, explicou Francisco.

E o Santo Padre afirma que o Senhor faz o mesmo connosco: "O Senhor diz: "Vem, vem para conversarmos. Falemos um pouco". Não nos assusta. É como o pai de um adolescente que fez uma asneira e deve repreendê-lo. E sabe que, se vai com um bastão ou um tom ameaçador,  a situação não acabará da melhor maneira. Deverá agir com confiança. O Senhor, nesta passagem, chama-nos assim: "Vem, conversemos, debatamos, discutamos. Não tenhas medo, não quero agredi-te". 
E como o pai sabe que o filho pensa! "Mas eu fiz coisas..." - Imediatamente: "Ainda que os seus pecados fossem como escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve. Se fossem vermelhos como púrpura, tornar-se-ão como lã".

Confissão sem ameaças

Como o pai em relação ao filho adolescente, Jesus, então, com "um gesto de confiança, aproxima-se com o perdão e muda o coração".
Assim fez, recorda Francisco, chamando Zaqueu ou Mateus. Assim faz nas nossas vidas, connosco: faz-nos ver "como devemos dar um passo em frente no caminho da conversão":
"Agradeçamos ao Senhor pela Sua bondade. Ele não quer agredir-nos e condenar-nos. Deu a Sua vida por nós e esta é a Sua bondade. Continua procurando o modo de chegar ao nosso coração. E quando nós sacerdotes, no lugar do Senhor,  ouvimos as confissões, também nós devemos ter esta atitude de bondade, como diz o Senhor: "Venham, debatamos, não há problema, o perdão existe", e não usemos a ameaça."

Ir ao Senhor de coração aberto: é o Pai que espera

O Papa contou,  a este propósito, a experiência de um cardeal confessor que, justamente diante do pecado que intui ser "grande", não se detém muito e segue em frente, continuando o diálogo: "Esta atitude, abre o coração e a outra pessoa sente-se em paz", sublinha o Papa.
Assim, faz o Senhor, connosco. Diz: "venham, debatamos, falemos. Pega no recibo do perdão; o perdão existe":
"Senhor, ajuda-me a ver esta Tua atitude". 
O diálogo entre um pai e um filho que já se julga um homem, é igual àquele que o Senhor tem para connosco: como o jovem, também nós estamos a meio do caminho. Mas mesmo assim, se fizermos asneiras, não nos assustemos: dialoguemos porque o  perdão, existe. E isto nos encoraja. Ir ao encontro do Senhor com um coração aberto: é o pai que nos espera", conclui assim sua homilia de hoje o Papa Francisco. 

adaptação do artigo publicado em gaudiumpress.org, em 27/2/2018



Papa: a Igreja deve abrir-se e não mumificar-se!


Ao concluir os Exercícios Espirituais de Quaresma, o Papa Francisco agradeceu ao Pe. José Tolentino de Mendonça pelas meditações propostas nesses cinco dias de retiro. O tema das dez reflexões foi “O elogio da sede”.
“Padre, gostaria de lhe agradecer, em nome de todos, por este acompanhamento, nestes dias e que hoje continua na oração e jejum pelo Sudão do Sul, pelo Congo e também pela Síria.
Obrigado, Padre, por nos ter falado da Igreja, por nos ter feito sentir a Igreja, este pequeno rebanho. 

E também por nos ter advertido a não “diminui-lo” com as nossas mundanidades burocráticas! Obrigado por nos ter recordado que a Igreja não é uma gaiola para o Espírito Santo, que o Espírito voa também para fora e trabalha para fora. 
E com as citações e as palavras que o senhor nos disse, fez-nos ver como o Espírito trabalha nos não crentes, nos ‘pagãos’ e nas pessoas de outras confissões religiosas: é universal, é o Espírito de Deus que é para todos. 
Também hoje existem os “Cornélios”, os “centuriões”, os “guardiões da prisão de Pedro” que vivem uma busca interior e sabem distinguir, quando há algo que os chama. Obrigado por esta interpelação, a abrirmo-nos, sem medo, sem rigidez, para sermos suaves ao Espírito e não nos mumificarmos nas nossas estruturas que nos fecham. 
Obrigado, Padre. E continue a rezar por nós. Como dizia a mãe superiora às irmãs: “Somos homens!”, pecadores, todos. Obrigado, Padre. E que o Senhor o abençoe.”

23/2/2018, Cidade do Vaticano (RV)


Is. 58,1-9

"Grite alto, não se contenha!
Levante a voz como trombeta.
Anuncie ao meu povo a rebelião dele
e à comunidade de Jacó, os seus pecados.Pois dia a dia me procuram; parecem desejosos de conhecer
os meus caminhos, como se fossem uma nação
que faz o que é direito e que não abandonou
os mandamentos do seu Deus.
Pedem-me decisões justas e parecem desejosos
de que Deus se aproxime deles. 'Por que jejuamos', dizem, 'e não o viste? Por que nos humilhamos,
e não reparaste?' Contudo, no dia do seu jejum
vocês fazem o que é do vosso agrado e exploram os vossos empregados. Seu jejum termina em discussão e rixa e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto.
Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco
e se deite sobre pano de saco e cinzas?
É isso que vocês chamam jejum,
um dia aceitável ao Senhor?
"O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto,
abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?
Aí sim, a sua luz irromperá como a alvorada, e prontamente surgirá a sua cura; a sua retidão irá adiante de você, e a glória do Senhor estará
na sua retaguarda. Aí sim, você clamará ao Senhor,
e ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá:
Aqui estou. "Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar;

Papa pede coerência no jejum

Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor».Na Missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta, o Santo Padre exorta para evitarmos um jejum fingido para ser visto pelos outros. 
O nosso jejum seja "disfarçado" pelo sorriso e chegue aos outros. 

Jejuar com coerência e não para as aparências.
 
Na homilia da Missa na Casa Santa Marta, o Papa Francisco advertiu quanto ao jejum incoerente, exortando a nos questionar sobre como nos comportamos com os outros.

Na primeira leitura extraída do livro do Profeta Isaías (Is 58,1-9a), fala-se do jejum que o Senhor quer: “quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim romper todo tipo de sujeição”.

O jejum é uma dos deveres da Quaresma, recordou o Papa. “Se não puder fazer um jejum total onde se  faz sentir a fome até os ossos, “faça um jejum humilde, mas verdadeiro”, pediu o Papa.

É Isaías que evidencia as inúmeras incoerências na prática da virtude: cuidar dos próprios interesses, do dinheiro"; o jejum é “despojar-se”; fazer penitência em paz : “não pode, de um lado, falar com Deus e, de outro, falar com o diabo”, porque é incoerente, advertiu o Francisco.

“Não jejuem como se faz hoje, de modo que se ouça o barulho”, ou seja, chamando a atenção do outros, porque somos católicos, somos praticantes; eu pertenço àquela associação ou nós jejuamos sempre, fazemos penitência, etc.! Não, não é isto que o Senhor deseja! 

Se tivermos de disfarçar, façâmo-lo com o sorriso, isto é, não mostrar que estamos a fazer penitência. “Procura a fome para ajudar os outros, mas sempre com o sorriso”, exortou o Santo Padre.

O jejum consiste também em humilhar-se! Isto, realiza-se pensando nos próprios pecados e pedindo perdão ao Senhor. “Mas, se este pecado que eu cometi fosse descoberto, fosse publicado nos jornais, que vergonha!”... “Pois bem, envergonha-te!”, disse o Papa, convidando também a quebrar as cadeias injustas.

“Eu penso em tantas empregadas domésticas que ganham o pão com o seu trabalho: humilhadas, desprezadas... Nunca pude esquecer, uma vez, que fui a casa de um amigo quando era criança. Vi a mãe dar um chapada na empregada doméstica. 81 anos... Não esqueci aquilo.
“Mas como tratas estas pessoas? Como pessoas ou como escravos? Pagas-lhes o justo salário? Dás-lhes  férias? É uma pessoa ou um animal que te ajuda em casa?”. Pensem somente nisto. Nas nossas casas, nas nossas instituições, existem estas situações. Como eu me comporto com a empregada doméstica que tenho em casa? 
Depois referiu um outro exemplo nascido de sua experiência pessoal. Falando com um senhor muito culto que explorava as empregadas domésticas, o Papa fê-lo entender que se tratava de um pecado grave, porque são “seres como nós, imagem de Deus”, enquanto ele sustentava que eram “pessoas inferiores”.
O jejum que o Senhor quer, como recorda ainda a Primeira Leitura, consiste em “partilhar o pão com o faminto, acolher em casa os miseráveis, os sem-teto, em vestir os nus ... ”.

“Hoje, observa Francisco, perguntemos: damos o tecto ou não, àqueles que vêm pedi-lo?”.

Para concluir, exorta-nos a fazer penitência, a “sentir um pouco a fome”, a “rezar mais” durante a Quaresma e a perguntarmo-nos, como nos comportamos com os outros: “O meu jejum chega a ajudar os outros? Se não chega, é fingido, é incoerente e leva-te pelo caminho da vida dupla. 

Faço de conta que sou cristão, justo.... como os fariseus, como os saduceus. Mas, por dentro, não o sou!  Peça, humildemente, a graça da coerência. Se eu não posso fazer algo, não a faço.  Fazer somente aquilo que eu posso fazer, mas com coerência cristã. Que o Senhor nos dê esta graça”.

site Vaticano News, 20 de Fevereiro de 2018
Seis recursos preciosos para estes 40 dias de preparação pascal

Com o início da Quaresma  D. Henrique Soares da Costa, recorda aos fiéis que este é um tempo litúrgico de preparação para a Páscoa do Senhor, a maior, a mais solene e a mais sagrada de todas as festas cristãs.

A preparação quaresmal, observa o Bispo, consta de quarenta dias de penitência, com exceção dos domingos porque, sendo o domingo o dia da Ressurreição, nele não se faz penitência. Ao longo desta preparação pascal, devemos purificar-nos de corpo e alma para celebrar, santamente, a Páscoa. 
E, a fim de vivermos bem a Quaresma, a Tradição da Igreja indica -nos algumas “armas para este tempo de combate espiritual”.

Seis armas para o combate espiritual na Quaresma

1 – A oração

Devemos acrescentar algo ao que já rezamos. Eis algumas sugestões: a Via-sacra às quartas e sextas-feiras; rezar um salmo por dia durante toda a Quaresma ou mesmo rezar o saltério todo até  Sábado Santo; tomar o Evangelho de São Marcos e lê-lo todo; ou o Livro do Êxodo ou Deuteronómio…

2 – A penitência

Deve ser, sobretudo, penitência corporal, ligada à renúncia de alimentos. Exemplos: retirar os lanches ou a sobremesa; retirar alguma alimentação de que se gosta muito etc. Há outras mortificações que se podem fazer: retirar novelas, alguma diversão, alguma coisa supérflua…

3 – A esmola

Trata-se da caridade fraterna nas suas mais diversas formas: visitar um doente, aproximar-se de alguém de quem se está afastado, ajudar material, espiritual ou psicologicamente alguém necessitado, ser mais atento à prática da esmola, sobretudo atendendo bem àqueles que batem à porta da nossa casa etc.

4 – A leitura espiritual

Não se deve passar este tempo sem ler um bom livro que favoreça o nosso coração. Gostar de santas leituras é um instrumento muito eficaz no caminho para Deus. Escolha um livro que o ajude na vida espiritual e leia-o durante os dias quaresmais.

5 – O combate dos vícios

São os maus hábitos que contraímos e impedem o nosso coração de voar para Deus. Escolhe um dos teus vícios principais e combate-o nesta Quaresma. Aprende a conhecê-lo: como e porque se manifesta? Quais são os sentimentos que ele deixa em mim? Como combatê-lo? De que ocasiões devo fugir para evitá-lo? Suplica a ajuda do Senhor, na oração.

6 – A confissão sacramental

Antes da Páscoa, procure fazer um exame de consciência profundo e amplo e confesse os seus pecados.

D. Henrique finaliza:

“Prepara bem o santo tempo quaresmal para que tua Páscoa seja, efetivamente, proveitosa e possas celebrá-la com todo o teu coração, na verdade da tua vida! Uma participação na celebração litúrgica que não modele a nossa vida é uma participação de rotina e falsificada”.




O Papa Francisco presidiu, nesta quarta-feira (14/02) na Basílica de Santa Sabina, no bairro Aventino, em Roma, a santa missa com o rito de imposição das cinzas.

“O tempo de Quaresma é propício para corrigir os acordes dissonantes da nossa vida cristã e acolher a notícia sempre nova, feliz e esperançosa da Páscoa do Senhor. Na sua sabedoria materna, a Igreja propõe-nos prestar especial atenção a tudo o que possa arrefecer e oxidar o nosso coração de fiel”, disse o Papa na sua homilia.

Segundo o Pontífice, “várias são as tentações a que nos vemos expostos. Cada um de nós conhece as dificuldades que deve enfrentar”. E é triste constatar, nas vicissitudes diárias, como se levantam vozes que, aproveitando-se da amargura e da incerteza, nada mais sabem semear, senão desconfiança.

E se o fruto da fé é a caridade – como gostava de repetir Santa Teresa de Calcutá –, o fruto da desconfiança é a apatia e a resignação.

“ Desconfiança, apatia e resignação: os demónios que cauterizam e paralisam a alma do povo fiel. ”

Francisco ressaltou que “a Quaresma é tempo precioso para desmascarar estas e outras tentações e deixar que o nosso coração volte a bater segundo as palpitações do coração de Jesus. Toda esta liturgia está impregnada por este sentir, podendo-se afirmar que o mesmo ecoa em três palavras que nos são oferecidas para «aquecer o coração fiel»: para, olha e regressa”.

Pára um pouco, deixa esta agitação e este correr sem sentido que enche a alma de amargura, sentindo que nunca se chega a parte alguma. Pára, deixa esta obrigação de viver de forma acelerada que dispersa, divide e acaba por destruir o tempo da família, o tempo da amizade, o tempo dos filhos, o tempo dos avós, o tempo da gratuidade… o tempo de Deus. Pára um pouco com essa necessidade de aparecer e ser visto por todos, mostrar-se constantemente «na vitrine», que faz esquecer o valor da intimidade e do recolhimento”, disse ainda o Papa Francisco.

O Santo Padre convidou também a parar “um pouco com o olhar altivo, com o comentário ligeiro e desdenhoso que nasce do ter esquecido a ternura, a compaixão e o respeito pelo encontro com os outros, especialmente os vulneráveis, feridos e até imersos no pecado e no erro”.
Pára um pouco com essa ânsia de querer controlar tudo, de saber tudo, devassar tudo, que nasce de se ter esquecido a gratidão pelo dom da vida e tanto bem recebido. Pára um pouco com o ruído ensurdecedor que atrofia e atordoa os nossos ouvidos e nos faz esquecer a força fecunda e criativa do silêncio.
Pára um pouco com a atitude de fomentar sentimentos estéreis e infecundos que derivam do fechamento e da autocomiseração e levam a esquecer de sair ao encontro dos outros para partilhar os fardos e os sofrimentos.
Pára diante do vazio daquilo que é instantâneo, momentâneo e efémero, que nos priva das raízes, dos laços, do valor dos percursos e de nos sentirmos sempre a caminho”.
Pára, para olhar e contemplar”, disse ainda o Papa.

A seguir, Francisco convidou a olhar! Olha “os sinais que impedem que se apague a caridade, que se mantenha viva a chama da fé e da esperança. Rostos vivos com a ternura e a bondade de Deus, que age no meio de nós”.
Olha o rosto das nossas famílias que continuam a apostar, dia após dia, fazendo um grande esforço para avançar na vida e, entre muitas carências e privações, não descuram tentativa alguma para fazer da sua casa, uma escola de amor. ”
Olha os rostos interpeladores das nossas crianças e jovens carregados de futuro e de esperança, carregados do amanhã e das potencialidades que exigem dedicação e salvaguarda. Rebentos vivos do amor e da vida que sempre conseguem abrir caminho por entre os nossos cálculos mesquinhos e egoístas.”
Olha os rostos dos nossos idosos, enrugados pelo passar do tempo: rostos portadores da memória viva do nosso povo. Rostos da sabedoria operante de Deus. ”
Olha os rostos dos nossos doentes e de quantos se ocupam deles; rostos que, na sua vulnerabilidade e no seu serviço, nos lembram que o valor de cada pessoa não pode jamais reduzir-se a uma questão de cálculo ou de utilidade.
Olha os rostos arrependidos de muitos que procuram remediar os seus erros e disparates, tentando partir das suas misérias e amarguras, lutando por transformar as situações e continuar para diante.
Olha e contempla o rosto do Amor Crucificado, que continua hoje, a partir da Cruz, a ser portador de esperança; mão estendida para aqueles que se sentem crucificados, que experimentam na sua vida o peso dos fracassos, dos desenganos e das desilusões.
Olha e contempla o rosto concreto de Cristo crucificado por amor de todos, sem exclusão. ”

De todos? Sim; de todos! Olhar o Seu rosto é o convite cheio de esperança deste tempo de Quaresma para vencer os demónios da desconfiança, da apatia e da resignação. Rosto que nos convida a exclamar: o Reino de Deus é possível!”

“Pára, olha e regressa”, frisou o Papa. Regressa à casa de teu Pai.
“Regressa sem medo aos braços ansiosos e estendidos de teu Pai, rico em misericórdia, que te espera! ”
Regressa! Sem medo: este é o tempo oportuno para voltar a casa, a casa do «meu Pai e vosso Pai». Este é o tempo para se deixar tocar o coração… Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa muito diferente, e bem o sabe o nosso coração. Deus não Se cansa nem Se cansará de estender a Sua mão.”

(Rádio Vaticano), site Aleteia 16/2/2018
A origem da Quaresma
                        
Entre todas as solenidades cristãs, o primeiro lugar é ocupado pelo mistério pascal, porque devemo-nos preparar para vivê-lo convenientemente. Por isso, foi instituída a Quaresma, um tempo de quarenta dias para chegarmos dignamente à celebração do Tríduo Pascal.

A Quaresma, como prática obrigatória, foi instituída no século IV, mas, desde sempre, os cristãos se preparavam para a Páscoa com oração intensa, jejum e penitência. O número de quarenta dias tem um significado simbólico-bíblico: quarenta são os dias do dilúvio, da permanência de Moisés no Monte Sinai, das tentações de Jesus. Guiados por esse tempo e pelas práticas – como que guiados por uma bússola –, buscamos os tesouros da Fé para crescer no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; Ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (Cf. Joel 12, 12-13).

Esse tempo de quarenta dias foi inspirado numa grande catequese que a Igreja primitiva realizava. Ela durava quarenta dias, tempo em que os pagãos (catecúmenos) se preparavam para receber o baptismo no Sábado Santo, dentro da Solenidade da Vigília Pascal. Acompanhavam, também, os irmãos que tinham cometido pecados graves para retornarem a Fé. Esse tempo era marcado pela penitência e oração, pelo jejum e escuta da Palavra de Deus. Eles eram os “penitentes”, os quais renovavam a Fé e recebiam o baptismo ou eram reintegrados na comunidade, no Sábado Santo.

Tempo profundo na Igreja

Na Quarta-feira de Cinzas, iniciamos o tempo mais rico e profundo da liturgia. Na verdade, esse tempo, que abrange a Quaresma, Semana Santa e Páscoa até Pentecostes, é um grande retiro, centro do Mistério de Cristo e da nossa Fé e salvação. Tempo privilegiado de conversão e combate espiritual, de jejum medicinal e caritativo. A Quaresma ainda é, sobretudo, tempo de escuta da Palavra de Deus, de uma catequese mais profunda, que recorda aos cristãos os grandes temas baptismais na preparação para a Páscoa.

Toda a nossa vida se torna um sacrifício espiritual, que apresentamos continuamente ao Pai em união com o sacrifício de Jesus sofredor e pobre, a fim de que, por Ele, com Ele e n’Ele, seja o Pai, em tudo, louvado e glorificado. Por isso, a Quaresma é um caminho bíblico, pastoral, litúrgico e existencial para cada cristão, pessoalmente e para a comunidade cristã em geral que começa na quarta feira de cinzas e termina com a noite da luz e do fogo, a noite Santa da Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Vamos refletir sobre os rumos de nossa espiritualidade até a Páscoa de Nosso Senhor Jesus, ou seja, a vida nova que o Ele tem para nós através  dos exercícios quaresmais de conversão. A liturgia da Quarta-feira de Cinzas manda proclamar o Evangelho em que Nosso Senhor fala sobre esmola, oração e jejum, conforme podemos meditar em Mateus 6,1-8.16-18.


Como viver o tempo da Quaresma? 


Algumas atitudes podem-nos ajudar a viver melhor o tempo da quaresma
A Quaresma é um tempo de graça, um verdadeiro Kairós, tempo da manifestação de Deus. Este tempo tem como característica duas realidades muito importantes: 

1. Olhar para Jesus. 
2. Conversão.

Neste tempo, somos levados pela Igreja a seguir Jesus nos seus últimos momentos de vida para, – junto com Ele, – aprendermos o que é o amor e a misericórdia. Por diversas vezes, o Senhor vai-se revelando como o rosto misericordioso do Pai, assumindo, até as últimas consequência, a Sua vontade, que é a de salvar a cada filho, ou seja, cada um de nós. É um caminho de “subida”, não só para Jerusalém, mas até ao mais alto grau do amor que se concretiza na Cruz.

Jesus, muitas vezes, vai anunciando a Sua Paixão dizendo que o Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado e morto, mas, ao terceiro dia, ressuscitará. Vemos nestes anúncios, também, o desejo do Senhor se entregar: aqui está a Sua disposição em dar a própria vida em nosso resgate. Ele não somente falou a respeito do amor que se revela ao dar a vida pelos amigos, mas o fez com a Sua própria vida. Assim, tornou-se o exemplo mais sublime que devemos seguir para, realmente, sermos felizes.

Quaresma é também conversão, revisão de vida e mudança de atitude. Tudo concorre para isso neste período: a liturgia, os cânticos, as orações. É tempo de olhar para tudo o que temos vivido e como temos vivido: os nossos relacionamentos em casa, no trabalho, na escola, o nosso relacionamento com Deus, etc. 
Será que Ele tem sido O nosso tudo? 
Será que a nossa relação com Ele é de confiança, de entrega, de intimidade e de amor?

Quaresma é tempo de perdão. O profeta Isaías diz-nos no capítulo 30, 18: “"Em vista disso, o Senhor espera a hora de vos perdoar. Ele toma a iniciativa de mostrar-vos compaixão, pois o Senhor é um Deus justo; – felizes os que n'Ele esperam”".

É um tempo de grande graça! É o Senhor quem toma a iniciativa de nos mostrar compaixão. Nas nossas paróquias, além do tempo normal das confissões, temos as celebrações penitenciais. Tudo se torna propício para a nossa conversão. 
Por isso, não podemos perder tempo!!!!

Algumas atitudes, podem ajudar-nos a mergulhar, bem no fundo, desta graça.

Por exemplo:
1 – Aproveitar este tempo para fazermos mais silêncio, criar um clima de interioridade, evitando músicas muito altas em casa e no quarto, valorizando aquelas que nos levam a uma maior interiorização, reflexão e oração.
2 – Define  um tempo do dia para a oração pessoal. Cria na tua casa ou no teu quarto um pequeno altar. Coloca aí um crucifixo, uma vela, a Bíblia aberta, para que o ambiente seja convidativo à oração.
3 – Nas sextas-feiras, se for possível, medita as estações da Via-Sacra. Isto te ajudará a mergulhar no mistério da Paixão do Senhor.
4 – Durante o tempo quaresmal, propõe-te fazer obras de misericórdia. Por exemplo: visitar um doente, visitar um asilo, levar alguma ajuda concreta a uma família mais carente, como roupas que já não estejas usando ou alimentos. Tudo isso gerará no teu coração, um sentimento de alegria por poderes fazer algo de bom a alguém.
5 – Quaresma é tempo de perdoar e de pedir perdão. Se tens alguém a quem precisas de perdoar, pede a Deus a graça de te conceder esse perdão e, se foste tu que feriste esse alguém, dá o passo em direção à pessoa e pede perdão. É tempo de reconstruir as pontes de reconciliação.
6 – A confissão é fundamental! Não a deixes para a última hora! Procura um sacerdote na  Quaresma para que, auxiliado pela graça desse Sacramento, possas colher todos os frutos deste tempo.

A Quaresma é entendida como um grande retiro, um retiro de 40 dias, no qual nos voltamos, de coração sincero, para o Senhor e d'’Ele recebamos uma nova vida. 
O importante, é que eu e tu tomemos consciência de tudo o que o Senhor deseja realizar nas nossas vidas e nos esforcemos para não deixar passar, tão grande graça.


Padre Clóvis – Missionário da comunidade Canção Nova