A Dracma Perdida

“...varre a casa e a busca diligentemente, até encontrá-la” (cf. Lc 15, 8-10)

O único desejo de Jesus é manifestar aos homens o coração do Pai do céu. Ele veio à terra certamente para nos abrir as portas do céu, que devido ao pecado de Adão pareciam ter sido fechadas. Jesus veio, sobretudo, para manifestar o amor de Seu Pai por nós.
Jesus fala de uma mulher que, tendo 10 dracmas (moeda grega) e perdendo uma, vai, acende a lâmpada, varre a casa e, encontrando-a, chama as vizinhas e as amigas para fazer festa. Nesta parábola Jesus não usa a figura de um homem, mas a figura de uma mulher. Podemos dizer que é também a figura do amor materno de Deus. O Pai tem um amor que é ternura, que nasce do seu “ventre” que gera sempre (Amor Hesed – Misericórdia). Uma ternura que não apresenta “força ou poder”, mas revela uma doação plena, sem limites, como é próprio da mulher, mãe e esposa.
Como nos é difícil ter este mesmo amor. Se olharmos para nós poderíamos dizer que somos tão egoístas e soberbos que até para expressar o amor verdadeiro dizemos que amar significa ser forte e decidido. Hoje, ainda mais, o mundo apóia este sentido do amor! As próprias mulheres são cobradas de se apresentarem decidas, líderes de negócios, chegando ao ponto de desejarem prevalecer sobre o homem tomando posse de tudo aquilo que é masculino, às vezes perdendo até mesmo suas características de feminilidade.
Atualmente, é suficiente olharmos o que vem acontecendo no mundo e como a mídia aproveita disso para destruir a figura da mulher. Tudo ao contrário do amor materno do Pai, Ele é ternura, doação, silêncio, prontidão em servir e amar. Ele se abaixa, se esconde, não quer aparecer, mas somente se doa.
“...varre a casa e a busca diligentemente, até encontrá-la” (Lc 15, 8b)
A Palavra nos diz que eram dez dracmas, moeda usada pelos pagãos e que não tinha grande valor. Esse fator faz a parábola parecer ainda mais irreal. Esta mulher se esforça tanto para encontrar uma moeda que não tem nenhum valor, assim como nós pecadores, homens e mulheres perdidos da presença de Deus.
Para os hebreus o número dez representa a comunidade. Jesus com o número dez e a dracma quer dizer aos discípulos que o Pai tem no coração o mundo todo, sejam hebreus ou pagãos, sejam cristãos, homens de outras religiões ou mesmo ateus. A dracma pode valer pouco aos economistas, porém, para o Pai o que importa é o que vale pouco para o mundo, o que é pouco considerável, descartável. Deus se preocupa com todos, quer que cada um chegue à salvação e encontre-se com Seu amor sem medida. Deus é mais mãe do que nossa própria mãe! É ele que, como canta o salmo, me conhece desde o ventre materno e me ama pessoalmente (cf. Sl 139, 13). Ele é todo meu, exclusivamente e somente meu, me dá tudo.
Para o Pai não pode faltar ninguém, se falta, Ele se preocupa e não para de procurar até encontrar. Para resgatar os que faltam Ele é capaz de qualquer coisa, até mesmo entregar Seu Filho para morrer por esta pessoa, por nós. Isso porque ama a cada um, se esquece de Si mesmo e daquilo que mais ama: Seu Filho único... se esquece de Si mesmo e de Seu filho colocando Ele na cruz por mim e por você!
Algum dia finalmente entenderemos este amor imenso e sem confins? Estamos dispostos a amar desta maneira? Ele me ama porque me vê filho como seu filho Jesus. Não nos trata somente como mais um, mas nos considera filhos e nos ama mais que a Si mesmo. Estamos prontos para nos converter e finalmente amar os outros mais que nós mesmos, considerando o outro maior e mais importante do que nós mesmos?
Como é distante desta realidade o nosso pequeno amor atrofiado!
Somente amando assim nos sentiremos filhos, gerados das entranhas misericordiosas do Pai.
“...tendo dez dracmas e perdendo uma delas, acende a lâmpada...” (Lc 15, 8a)
Limpa a casa e procura com cuidado, este é o trabalho misericordioso do Pai sobre cada um de nós. Ele não se preocupa de mais nada. A mulher varre, limpa, trabalha noite e dia para encontrar a dracma perdida, moeda que, lembramos, economicamente não tem nenhum valor. O Pai do céu não está preocupado se você não vale nada, se é o pecador mais duro e cruel. Para Ele o que vale é somente que você é Seu filho. Filho pecador, sujo, raivoso, violento, que como o filho pródigo se afastou e acabou com toda a sua herança, mas para Ele nada disso importa. Você é precioso aos seus olhos, é a ovelha perdida que necessita de proteção e cuidado. Para Ele só importa que você é seu filho! Varre a casa inteira, cada canto de nossas vidas, cantos doloridos, sofridos, sujos... Para Ele o tempo e o cansaço não importam, o que importa para Ele somos cada um de nós.
Para procurar, acende a lanterna que ilumina cada canto obscuro de nossas vidas. Ele oferece tudo, por isso acende uma lanterna, a lanterna é Jesus. Ele é a luz que pode me iluminar e esclarecer a minha mente corrupta.
O mundo de hoje vive em plena escuridão. Sem perceber nós nos arriscamos em cair no inferno do nosso eu egoísta. Não é verdade que somos inseguros, escravos das paixões desordenadas e dos pensamentos depressivos? Tudo parece escuro, sem esperança. Deus Pai nos responde e ajuda ao acender a lanterna da nossa casa interior, do nosso eu, para iluminar cada canto escondido e fedorento. Esta luz é Jesus, que morre por mim na cruz e se torna entranhas de misericórdia tomando sobre Si os nossos pecados. O Pai dá toda a luz, Seu Filho Jesus, até Ele se tornar escuridão aos olhos do mundo. Jesus se faz pecado para limpar os nossos pecados e morre para mostrar que este é o único caminho para entendermos a misericórdia do Pai e vivermos a verdadeira misericórdia uns com os outros.
“Alegrai-vos! Encontrei a dracma que tinha perdido!” (Lc 15, 9)
Enfim encontrada a dracma, a mulher faz festa e chama todas suas amigas. No céu há jubilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende (cf. Lc 15,10). É a alegria do Pai misericordioso, não importa o fato que por um tempo a dracma, eu e você, estava perdida, mas sim fazer festa, o que estava perdido foi encontrado, o filho voltou para Ele. O filho permanece filho também quando se perde, trai ou se esconde.
Devemos escolher fazer festa sem olhar os nossos pecados e os dos outros. Acolhemos cada pessoa, sobretudo o pecador, como uma mãe que recebe seu filho no ventre e faz festa quando ele nasce. Porque viver murmurando e lembrando dos próprios pecados e o dos outros?
O que é mais saudável? Viver de lembranças negativas ou fazer festa exaltando o amor do Pai que se doa e nos doa seu filho por amor? Sejamos misericordiosos como a maternidade do Pai do céu!
Pe. Antonello e Pe. João Henrique

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