Atravessámos o Rossio por entre estudantes de capa preta e as suas praxes. A temperatura amena deixava antever uma noite agradável.

Subimos a Rua da Madelena até encontrarmos o grupo que nos aguardava, já em grande animação. Descemos até ao Campo das Cebolas. Deviam ser 21h30, não sei ao certo. Não havia interesse nas horas, mas sim no que se passava à nossa volta. A fila para a recolha de alimentos ainda era grande (e estava já no fim, pelo que nos disseram). Nada levávamos. Ou melhor, a única "coisa" que transportavamos connosco era a nossa alegria, as nossas palavras de conforto e, acima de tudo, uma mensagem de Cristo. 

Confesso que esta foi a primeira vez que fui para a rua com este propósito - o de levar algo de diferente - e confesso também que pensei "nada disto vai correr bem". Só pensava "estas pessoas vêm aqui à procura de alimento, têm fome, passam o dia, dias, sem comer, e nós chegamos aqui de "mãos vazias"".... Como estava enganada! 

Embora participe, sempre que posso, na confeção e distribuição de alimentos, voltei a ser surpreendida pela simplicidade e gratidão destas pessoas. Do seu sorriso rasgado e olhos tristes. Nada lhes levávamos para saciar a fome de pão, mas a sua sede e fome de uma palavra de afeto, de atenção, eram enormes.

E foi ali, no Campo das Cebolas e na Estação de Santa Apolónia, que conheci algumas pessoas que no seu infortúnio não esquecem de sorrir, de cantar, de louvar e agradecer.

Vim muito mais "rica" e com a certeza que cada um de nós tem tanto e tanto para dar. 

A fome não é só de pão.... é de Amor!

Deixo-vos o convite!

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