PORTUGAL: CATEQUESE, PRECISA-SE!!!

No passado mês de Fevereiro, estive numa pequena cidade no estado de Minas Gerais no Brasil, Sete Lagoas, com cerca de 280.000 habitantes.
Mas como quantidade nunca significou qualidade, a demonstração e vivência de fé, excedeu as minhas esperanças e abalou o meu coração!

No dia 13 de Fevereiro fui convidado para assistir a uma acção de evangelização de rua. Baptizaram este evento com o nome “Blitz da Misericórdia”. Tudo começou as 7h30 da manhã, onde, jovens entre os 15 e 16 anos, reuniram-se na capela do colégio, perto do centro da cidade, para uma Eucaristia que mudou e abalou a minha estrutura humana.

Durante a celebração, os jovens, sempre concentrados, não tinham medo nem vergonha de rezar: acompanhavam os rituais e espalhavam a alegria das músicas de animação, com muito fervor! 
Quando chegou o momento da comunhão, eles ajoelhavam-se para receberem o Corpo de Cristo e, algumas meninas, cobriam a sua cabeça com um lenço!
Nunca vi comportamentos idênticos em Portugal, pelo menos em pessoas desta idade! 
Veio ao meu pensamento a realidade portuguesa: a maioria dos jovens não vão às Eucaristías porque "isso" é dispensável ou, por outros motivos que cada um saberá, os pais condescendem, e no verão, o melhor é ir "descapotável" pois o calor é imenso ....( a temperatura local, rondava os 35º!)

Após a Eucaristia foram dadas algumas coordenadas e regras para inicio da missão nas ruas. Os jovens foram distribuídos aos pares para evangelizar. Uns ficavam nos semáforos a entregar pajelas sobre o ano da misericórdia; outros, seguravam faixas com mensagens de amor de Deus e temas bem problemáticos como o Aborto, mensagens de confiança da Santa Teresinha de Ávila, etc. 

Outros grupos abordavam as pessoas que passavam na rua com palavras de amor e esperança: “Jesus te Ama”, ”Dê um sorriso para Jesus”, “Posso dar-lhe um abraço?”. O retorno e aceitação das pessoas era lindo e imediato. Os mais velhos diziam que era maravilhoso aquilo tudo, que deveria haver mais jovens assim e agradeciam pela palavra de conforto. 

Em simultâneo, estava um sacerdote a confessar quem quisesse reconciliar-se com o Senhor. Tudo estava organizado ou não fosse esta uma acção do Espírito Santo!

Inicialmente, a minha tarefa foi segurar uma faixa com mensagens. A minha parceira de evangelização, a Barbara, era uma jovem de 15 anos que foi falando comigo e me explicava como o Brasil estava a viver, espiritualmente, após a deslocação do Santo Padre Francisco.
Partilhou comigo uma lição de vida que deixou-me de boca aberta! Atentem.

Esta jovem falava de temas como o aborto com um conhecimento e profundidade científica e espiritual, como se tratasse de uma especialista mestrada na matéria! Falava da relação amorosa dizendo que não era santa mas que não ia namorar por namorar, pois o seu corpo era templo do Espírito Santo!
Beijos na boca? Fora de questão: um simples beijo na boca era pecado! Conhecia jovens que namoraram 6/7 meses sem um beijo e que ela também queria seguir estes exemplos. 

Perguntei-me: será que eu e a minha mulher, quando formos presenteados por Deus com um bébé, seríamos capazes de, no mundo europeu destituído de valores, educá-lo/a nestes princípios? Ou todas as orientações que, como cristãos católicos lhe daríamos como exemplo, seríam destruídas pelas companhias e pelas suas amizades? 

Seguidamente, houve uma adoração do Santíssimo na praça central da cidade, à qual eu não tive oportunidade de assistir, Depois de ver as fotos e os vídeos, conclui: isto é surreal! A cidade inteira ficou vidrada naquela adoração! Para melhor entenderem esta imagem, imaginem o Terreiro do Paço ou o Rossio em Lisboa, repletos de pessoas, no mais profundo silêncio e em completa entrega ao Santíssimo Sacramento... Será que nenhum sacerdote quer arriscar? Ou não terá autorização para o fazer? E mesmo que o faça, quais as possíveis consequências hierárquicas? Ou será que nenhum grupo de oração, ainda teve essa coragem? Então, ninguém houve as palavras do Papa Francisco quando pede uma Igreja na rua?

Os coordenadores partilharam alguns dos projectos futuros. Um deles é, claramente, fora de série, diria, extraterrestre, pois consiste em inscrever uma equipa de futebol no campeonato regional, sendo a mesma uma forma de evangelizar. Eu perguntei: "mas evangelizar, como?". A resposta foi mais uma bomba: "a equipa terá um equipamento com frases bíblicas, os jovens iram rezar antes do jogo no relvado, quando marcarem um golo louvarão ao Senhor, e se sofrerem alguma falta, pedirão desculpa ao agressor e abençoando os adversários …
Mas nesta nova missão as raparigas estariam nas bancadas a louvar e a rezar por todos.
Estes jovens são os futuros santos de calças jeans como pediu o Papa São João Paulo II, são os santos do novo milénio.

Se não tivesse ouvido, pensaria que estavam a "reproduzir" um filme de ficção científica, como a "Guerra das Estrelas" ou o "Apocalipse now" ...

GRUPOS DE ORAÇÃO

Dois dias depois, tive a oportunidade de participar num G.O. do RCC, que eu já conhecia, e que é um encontro maravilhoso co Deus e com os irmãos. Começa às 19h com o terço e às 19h30 inicia-se um louvor, bastante animado. Depois do louvor há sempre um momento de partilha, com um pregador diferente em cada semana. Terminam com uma oração colectiva que é muito forte, pois são mais de 500 pessoas a invocar o Espírito Santo. 

No dia seguinte fui participar noutro grupo do RCC que também é muito especial, pois, além de haver o cuidado de realizar um ensinamento prático perceptível a todas as classes sociais, termina com  o repouso no Espírito Santo, oração sobre todos os irmãos que assim o desejarem. Pessoalmente, estava disposto a resistir à acção do Espírito: de coração fechado e de pernas cruzadas, interiorizei: "hoje, não"! Pois, já tinha aprendido que resistir à acção do Espírito é a maior estupidez espiritual que o ser humano (consagrado ou leigo), pode interiorizar. Acreditem, quando o meu irmão leigo rezou por mim e soprou para mim, os meus pés, mesmo cruzados, foram levantados do chão! Ele sorriu para mim e abraçou-me! 

Tive a oportunidade de ir a uma missa no Carmelo onde vi a alegria dos irmãos franciscanos, após a comunhão: um sorriso no rosto .... que não tem explicação. Para eles, foi um encontro sobrenatural! Será que eu sinto esta mesma alegria, depois de receber Cristo? Ou regresso ao meu lugar com o mesmo sentimento, antes de comungar?

No ultimo Domingo fui a uma missa para crianças e fiquei pasmado: crianças de 3, 4, 5, 6 anos estavam com atenção à missa, pois a mesma estava preparada para as crianças e para os adultos. Na leitura do evangelho havia um teatro representativo da leitura; a homilia, foi substituída por uma história para crianças que era bastante interessante, pois a mesma transmitia os valores morais que tinham sido proclamados na Palavra de Deus. A comunhão era feita nas duas espécies e os casais davam a comunhão um ao outro. As crianças, como não comungavam, iam buscar umas uvas e pedir a bênção ao sacerdote. Algo incrível.

Este foi um pequeno resumo da minha experiência durante duas semanas no Brasil. Será que, algum dia, poderei ver algo de semelhante em Portugal? Ou na Europa?

Rui Ferreira

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