O NASCIMENTO DA IGREJA








O Tempo Pascal chega ao seu auge, com o grande presente do Ressuscitado: o derramamento do Espírito Santo prometido, na saída da Igreja à vida pública! Do lado de Cristo na Cruz brotou a vida da Igreja, na fonte dos sacramentos do Batismo e da Eucaristia, água e sangue que jorram do lado do Salvador. E Ele “entregou o Espírito”, fazendo dom daquele que é o sopro da vida. 
Após a Ressurreição o mesmo Senhor, mostrando as marcas da Paixão, apareceu aos seus discípulos, trazendo-lhes o dom da paz e a missão da reconciliação, quando soprou sobre eles o Espírito Santo. 
É o mesmo Espírito que pairava sobre as águas, quando da criação do mundo! 
É o mesmo Espírito que falou pelos profetas! 
É o mesmo Espírito que estava com Jesus na sua missão inaugurada na Sinagoga de Nazaré! 
E é o mesmo Espírito que é dado a todo o Povo de Deus, onde nele habitará, até à vinda do Senhor, no fim dos tempos! 
É Pentecostes na Igreja! 
É Pentecostes na vida de cada cristão! 
É Pentecostes no zelo apostólico que anima a Evangelização! 
Vinde Espírito Santo!


A Igreja reza e canta assim no Pentecostes: “Espírito de Deus, enviai dos Céus um raio de luz!”. O Espírito Santo é luz que ilumina os corações e a estrada da fidelidade a Deus. “Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós! Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele”. A luz do Espírito invade todos os espaços de escuridão, todos os recantos tramados pelo pecado, o fingimento, a mentira, a impureza, tudo o que se desfaz diante da luz que vem do Céu! Esta luz queima para purificar, cauterizando as raízes da maldade que se espalha no mundo, todas as feridas deixadas pelo tempo e pela iniquidade das pessoas humanas. “Espírito de Deus, enviai dos Céus um raio de luz!”

“Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons”. Somos homens e mulheres carentes dos dons do Espírito Santo, esmolando na oração confiante! O dom da Sabedoria, para degustar o sentido da vida e dos acontecimentos segundo Deus; o dom do Entendimento, para sermos apaixonados pela verdade; o dom da Ciência, para conhecer as realidades humanas de acordo com o plano de Deus e não transformar nosso mundo num deserto estéril; o dom do Conselho, para buscar na Escritura, na palavra das pessoas maduras em Deus e na inspiração segura do Espírito, o modo correto para tomar decisões e agir com retidão; o dom da Fortaleza, para sermos socorridos em nossa fragilidade e falta de coragem, assim como a força para controlarmos nossos impulsos e nosso temperamento; o dom da Piedade, a graça de ter um coração bom, que ame a Deus, o próximo, a comunidade e a pátria; o dom do temor de Deus, que dá a certeza de que nunca estamos sozinhos, mas acompanhados pelo Senhor, e nos ajuda a levar Deus em conta em todos os passos que damos na vida. “Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons”

“Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!” O Espírito Santo é chamado consolador. Ele que abranda nossas inquietações, exageros, radicalismos desatinados, quando queremos jogar tudo pelos ares! Vinde habitar em nossos corações, Espírito Santo, ocupai todos os espaços de nossa alma. Esvaziai de todo entulho o nosso interior, Vinde aliviar as dores e as inseguranças que nos assaltam! “Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!”

“No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.” Nossa vocação é trabalhar este mundo de Deus, com o suor de nosso rosto e a dedicação de nossa inteligência. Sabemos que o descanso verdadeiro e salutar de todas as nossas fadigas só se encontra no Senhor, que envia seu Espírito. Este Espírito vem ao encontro de nossas muitas aflições, como o remanso cheio de quietude das águas que correm, ou como a brisa que lava nosso rosto com delicadeza. Precisamos urgentemente dessa presença do Espírito Santo, “no labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem”.

“Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.” O Pai de misericórdia, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, nos concede, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz (Cf. Fórmula da Absolvição no Rito da Penitência). É a graça da reconciliação e do perdão dos pecados que clamamos quando pedimos que nossas sujeiras interiores sejam lavadas! E a secura interior e exterior é umedecida com a água bendita do Espírito. Este Espírito é dado para curar nossa humanidade ferida. Peçamos: “Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente”.

“Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.” O primeiro coração endurecido é o meu, não tanto os corações dos outros. Que nenhuma dureza, escuridão ou frieza resistam à ação do Espírito Santo de Deus! É tempo de acolher o sopro do Ressuscitado que dá o Espírito Santo a todos os fiéis e destrói com o fogo do amor todas as barreiras, abre portas e descortina os horizontes para que o Evangelho penetre em todas as realidades humanas! “Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei”.

“Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons.” É a Igreja que reza confiante, impulsionada pela recomendação do Senhor Jesus, pois ela e a humanidade necessitam com urgência o sopro dos sete dons do Espírito Santo! “Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons”.

“Dai em prêmio ao forte, uma santa morte, alegria eterna.” Nossa estrada nesta terra terá seu final lá na casa do Pai. Passaremos pelos umbrais da morte, nossa Páscoa pessoal e definitiva, para contemplar sem véus as realidades eternas. Nossa vida na terra seja uma santa viagem, a belíssima aventura, para a entrega que esperamos aconteça com uma santa morte. Se pequenos e fracos, somos fortes do Senhor e podemos dizer: “Dai em prêmio ao forte, uma santa morte, alegria eterna”.



adaptação da reflexão de D. Alberto Taveira Corrêa, arcebispo Metropolitano de Belém do Pará.


II


Todos os anos, na liturgia de rito romano, celebramos, após cinquenta dias da Páscoa, a festa de Pentecostes. A sua origem remonta às páginas do  Antigo Testamento, tem a sua releitura no Novo Testamento e recorda-nos,  ainda hoje e em cada momento presente, o nosso compromisso baptismal e crismal com o Senhor, O crucificado vivente.

Pentecostes no Antigo Testamento:

Pentecostes é uma palavra de origem grega cuja tradução é ‘cinquenta dias’. Pentecostes é, no Antigo Testamento, a festa da Colheita (Ex. 23, 14s), também conhecida como festa das Semanas (Ex. 34,22; Dt. 16, 9-10). As comunidades judaicas celebravam a colheita dos frutos da terra; era uma festa do povo do campo. Com o passar dos tempos, essa festa que acontecia nas sete semanas depois da Páscoa, foi tomando um novo sentido: passou a representar a lembrança da promulgação da Lei no monte de Sinai. Segundo o testemunho do livro do Levítico, esse dia é um dia santo: nele haverá uma convocação, uma assembleia santa (Lv. 23, 21) e o povo fará uma festa em honra de Javé.

Pentecostes no Novo Testamento:

No Novo Testamento, Pentecostes está associado, dentro do contexto da paixão e ressurreição de Jesus, com a criação “oficial” da Igreja. Lucas, no livro dos Atos 2.1,41, dá-nos um relato cujo teor tem mais um sabor teológico do que histórico. Ele, diz-nos que na festa das Semanas (Pentecostes), depois de cinquenta dias da Páscoa judaica (e da ressurreição de Jesus), após Jesus ter sido elevado aos céus, enviou-nos o Espírito Santo, fundando a nova comunidade dos eleitos, o novo povo da salvação escatológica.

É claro que, mais do que um relato “histórico” e fidedigno, como a semelhança de uma reportagem ao vivo e a cores, o autor conta-nos uma realidade bem mais viva e cativante do ponto de vista da fé cristã. 

As  comunidades  fundadas pelos  apóstolos e demais seguidores, são uma obra do Espirito! Diferentemente, alguns teólogos, fruto do aprofundamento de outras passagens  bíblicas, colocam o nascimento da Igreja no lado aberto e chagado de Jesus, na cruz. 
Lucas está a dizer-nos que Deus, através da festa das Semanas judaica, está a criar um novo povo, através de uma nova colheita. Estes "povos" significam outras regiões e outras nações onde a salvação, o Evangelho de Jesus, irá chegar! 
E essa linguagem será só uma: o Amor! Amor comprometido, ablativo e missionário!

Deste modo podemos dizer, baseado em exegese e teologia assumida pela nossa Igreja, que, Pentecostes, mais do que um facto histórico é um facto teológico!

Então houve ou não houve uma ‘descida do Espírito Santo’? Claro que houve! Basta analisares os frutos ao longo destes dois mil e dezoito anos!
O mesmo Espirito que animou, dinamizou, criou, re-criou e inverteu a ordem das coisas nessa trajetória histórica está, nos dias de hoje, a agir no nosso meio, nas comunidades e através das acções dos muitos irmãos e irmãs que estão na periferia do mundo ou dentro das comunidades, fazendo a “coisa”, o reino, a vida, acontecer.

Por isso, mais que celebrar uma lembrança histórica, celebramos aqui e agora, a presença transformadora, libertadora, subversiva e dinâmica do Espírito que faz, nos nossos tempos, um Novo Pentecostes. 

E este "novo pentecostes" é de ordem pessoal, comunitária e social no meio do povo! O Espírito, não é propriedade de um grupo de pessoas, nem de uma pessoa ou de uma ideologia, mas sim e apenas de Deus!!! 
É Ele, vivo, que habita nos nossos corações!
Não é a simples Terceira Pessoa da Santíssima Trindade! Não é uma pomba ou uma língua de fogo .... Não! É o próprio Deus, ressuscitado e vivi, que habita em nós!

Conclusão…

Celebrar Pentecostes não é celebrar o passado!  Fazendo memória do passado,  escutemos o Espírito Eterno: do passado, do presente e do futuro! Ele foi, é e será sempre O mesmo: Deus vivo no nosso coração, Deus vivo em nós!!





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